29 October 2008

depois da tempestade, Hoi An



Chegar a Hoi An foi termo-nos finalmente apaixonado pelo Vietnam. A relacao estava dificil, mas depois de muitas "lagrimas" (que inundaram literalmente as cidades a nossa passagem e quase nos fizeram afogar em Hue) a paz instalou-se.
Para alem de bonita, a vila e interessante. As fachadas tem as cores gastas pelo tempo, que passa muito devagar. Ambientes saidos dos filmes, fortes influencias chinesa e francesa. As lanternas que iluminam as ruas nao sao de papel mas de tecido, ou nao estariamos no territorio dos melhores alfaiates em plena rota da seda. As bombas de gasolina sao a manivela, e nao sao assim tao necessarias que o veiculo de eleicao e a bicicleta.
Por 1 dolar por dia tambem arranjamos umas para nos e pedalamos ate a China Beach, um areal ladeado de palmeiras que se estende por 30 km ate Da Nang onde os primeiros portugueses chegaram em 1500 e qualquer coisa, e onde nos demos finalmente um mergulho. Os pescadores andam no mar nuns barcos redondos, minusculos e frageis, uma especie cestas. No rio que entra pela cidade, uma especie de gondolas azuis com uns olhos pintados deslizam sobre a agua vermelha.
Nos pequenos restaurantes e nos mercados conversa-se com toda a gente, e reconhecem-se caras de outras paragens. Porque aqui toda a gente se encontra feliz, a comunicacao, se nao tinha acontecido antes acontece naturalmente. Ha uma especie de espirito colectivo: todos partilham da mesma sensacao de liberdade - quanto mais nao seja porque aqui nao ha assedio por parte dos nativos para comprar o que quer que seja, para ver a sua loja, para andar na sua mota, para comer o que nao nos apetece...-, do prazer de viajar.
Certamente um dos pontos mais altos das nossas ferias, e a comida deliciosa que se serve em todo o lado, a toda a hora, tem esse sabor. Dificil e escolher onde sentar porque todas as portas se abrem para espacos cheios de caracter, e todas as vistas sao apeteciveis. Peixe delicioso, sumos de fruta, vestidos de seda feitos por medida em 24 horas, calor q.b., praia digna de postal, leituras regadas com gin&tonic antes de jantar...

28 October 2008

Rapidinha





O tempo que estivemos em Hue foi so o suficiente para sairmos de um autocarro, entrarmos noutro e atravessar a vila a 5 klm/h -se tanto-, e ter uma experiencia digna de telejornal, ou de um momento "no comment" do euronews. Literalmente, que ate fomos filmados pela tv nacional.

A parte "gira" foi encontrar a bagagem inundada, que vinha no porao submerso. Arregacar as calcas era inutil, tentar cobrir a cabeca era ridiculo. Mas parece que estamos em sintonia pelas noticias que nos chegaram de casa.
posted by xu

Post-it (1)

Nos posts anteriores ja se encontram as fotografias prometidas.
Beijos e abracos :)

Posted by xu

24 October 2008

(par)hanoi(a)



De regresso a Hanoi, nao so de passagem. Parece que estamos dentro de um jogo, mas desconhecemos as regras. Pode parecer um desafio interessante, mas tem momentos menos bons. Aceitamos participar, mas se nos lembrarmos do filme...
Ja percebemos que a regra no.1 e nunca sair de uma cidade sem levar uma boa recordacao. Desgastados, queriamos sair de Hanoi e conseguimos, mas quando iamos usar a cidade como plataforma depois de Sa Pa para Hue mais a sul, ficamos retidos tal como em Pequim. Com um bilhete comprado para um "combio fantasma", e depois de muita insistencia para nos devolverem mais que os 10% do valor pago, e em vias de perder a paciencia perante as recusas de nos venderem outro bilhete para a mesma noite que nao fosse sentados em 2a, a unica hipotese foi ficar mais uma noite. Recuperamos a totalidade do dinheiro, mas sentimos a derrota na mesma.
Alem disso, e para deturpar a clareza dos acontecimentos, o jogo mete alucinacoes provocadas pela medicacao para a malaria (amentando o grau de dificuldade quando se tem de decidir tomar e ter pesadelos ou nao tomar e arriscar ficar doente).
Hanoi: 2nd round. Falta a electricidade o dia todo, as ventoinhas dos cafes nao funcionam, os frigorificos nao gelam as bebidas, o ceu cinzento vai rebentar numa tempestade mesmo antes de termos de ir para a estacao. A cidade inundada de altares de plastico, imagens de divindades aos pontapes, muita vela acesa, insenso a queimar dia e noite, e o barulho de fundo dos motoresdas motas e buzinas... alguem nos estente um leque de papel a dizer ave maria,minutos antes de soar madredeus no cafezito onde faziamos horas - e este povo nao e propriamente erudito nas escolhas musicais, nem os bares de Karaoke servem para cantar...-, e rapidamente a minha hipersensibilidade cronica associada a esta recente patologia alucinogenica me diz que "algo esta para acontecer".
O cepticismo de J. afasta as hipoteses mais dramaticas. Para ele os jogos sao todos iguais e o comando nao da grandes hipoteses mas e eficaz - quadrado, circulo, sinal mais e triangulo, direccoes basicas; controlo de velocidade; saltos menos ou mais acrobaticos, depois de ganhar o jeito. Ok, desisto. Joga tu agora!...
O que dizer do facto de depois de o comboio que nos ia levar daqui para fora nao ter passado pela plataforma, um taxista ter abandonado o carro na estrada e vir a gritar de bracos no ar " aeroporto-aeroporto". Qual e a mensagem? Sim, esta bem, eles sao muito persuasivos e insistentes e as 11 da noite aquele podia estar a fazer contas ao dia e ainda queria agarrar mais uns turistas... Ah! E as maes a telefonar a mesma hora? A mesma fatidica hora em que os comboio nao passou?
Vamos para baixo, em Direccao a HoChiMinh? Temos um bilhete de la para Bangkok comprado pela net em SaPa, e temos outro de Pequim para Madrid pela mesma altura- o voo de regresso que nos "obrigaram" a compar para conseguir o visto.
Decidimos continuar, ja com "bonus" no saldo telemovel ("caridade" paternal), mesmo que isso signifique desaprendermos a comportarnos nas reunioes familiares, a comecar pela falta do uso de talheres a acabar na memoria dos sabores mais queridos que se esta a desvanecer... Oh, quanto dariamos para ter estado no jantar de aniversario da Tia I.!... mas tambem se comem coisas optimas por estes lados e das saudades tratamos depois.
...Alem disso nunca se sabe quando voltaremos a ter a oportunidade de participar nO JOGO.

Sa Pa





Mais uma vez se confirma que quanto pior a viagem, o caminho, maior a recompensa. Os dias em SaPa foram uma boa surpresa, e la encontramos tudo o que procuravamos, excepto a coragem para enfrentar mais uma viagem de comboio (a china foi so um estagio) . Infelizmente e a unica maneira de la chegar, e ainda nao referi o tortuoso percurso de 30Km que separam a estacao de Lao Cai desta vila. 30 Km que demoram uma hora a percorrer num mini-bus apinhado de turistas - onde cabem 6 leva-se pelo menos 12, e so se parte quando a porta mal fecha e ja nenhuma mala cabe em nenhum buraco-, sempre em primeira nas subidas e em ponto morto nas descidas. A paisagem e "estonteantemente" linda, a mistura com a nausea provocada pelo particular modo de conducao do motorista com pessimo gosto musical, pelo que consegui ver nos instantes em que abria os olhos apos uma travagem mais brusca ou numa curva que "nao acabava". Uma vez la em cima nao se consegue deixar de pensar que o regresso se faz pelo mesmo caminho, a nao ser que se volte a ir para a china. Mal sabiamos nos quando escolhemos o titulo para o blog...
La em cima cruzam-se no mercado tribos diferentes que distinguimos pela roupa e costumes. Sao minorias etnicas originarias da china, povos das montanhas que cultivam opio e arroz manipulando a paisagem em plataformas sensiveis que "completam" o trabalho feito pela natureza, posam para as fotografias e vendem artesanato local.

Queria visitar o Baguette e Chocolat e ter a sorte de conseguir - e conseguimos, atraves de um telefonema feito dias antes-, ficar num dos 4 quartos do restaurante-pousada que desenvolve um projecto de solidariedade com vista a integrar os jovens da regiao de forma responsavel, face ao turismo.

Faz-se uma boa-accao e beneficia-se nao so da satisfacao de patrocinar o projecto como da oferta de um servico irrepreensivel. Associados a uma escola profissional pela mao dos samaritanos, encontramos alguns spots tambem em Hanoi, maioritaramente cafes e padarias, que servem pequenos almocos, lanches, chas, almocos, mimos a la carte. Parece que estamos em Paris, ou no caso de Sapa numa vila de montanha apos um dia de ski, felizes so de olhar para o croissant perfeito.

Quando nos conseguimos libertar da hipnose gastronomica, e assim que a chuva deu treguas, decidimos seguir uma das estradas de terra batida para a vila mais proxima. Uma gincana na selva foi o que foi, mas la em baixo, e depois de no mesmo percurso termos passado pelos pontos mais frio e mais quente do pais em minutos, por entre canas de bambu, nevoeiro e clareiras , terracos de arroz, casas e engenhosos sistemas de rega, canais, escadas, cascatas desciam o vale e encontravam-se no cenario que so imaginava ser possivel encontrar "somewhere over the rainbow". Lindo.

20 October 2008

(ha)Noia





Da china passamos a fronteira pela "friendship pass" a pensar em todos voces e sem saber o que vinha a seguir. OK, sabiamos que estavamos a entrar no vietnam.
Logo a seguir a Nanning a paisagem ja se estava a transformar e na hora de carimbar os passaportes o calor, a humidade, a "selva" a nossa volta, nao deixavam duvidas de que a china ja era. Seguimos para Hanoi, onde ainda estamos, felizmente a fazer o check-out do hotel.
A cidade e a mais intensa ate agora. O "charme" que lhe encontramos esgota-se no Old Quarter, e esgota-se muito depressa. 3 dias foram o suficiente, e antes de rumar a sul, para a praia vamos fazer uma visita "terapeutica" a SaPa, antiga estacao de montanha dos franceses, para respirar. Claro que o que nos motiva a ir novamente para tao perto da fronteira com a china sao as paisagens unicas que so ali se encontram, mas a necessidade de respirar fundo, sem pensar que a mesma sugidade que se agarra aos pes tambem forra os nossos pulmoes, e maior que a de chegar perto da agua.
Ate a nossa visita a Halong Bay ficou sem efeito por causa da chuva, e a tempestade anunciada nas previsoes do tempo, e a desculpa perfeita para deixar a cidade. Adoramos cidades, nao queremos detestar nenhuma, nem esta que nos fez ficar mal humorados, sujos, esgotados, literalmente feios, porcos e maus!
Apesar de tudo, descobrimos verdadeiros oasis : cafes que fazem lembrar amsterdao ou paris, onde apetece ficar horas, e mesmo "esplanadas" improvisadas nos passeios, com bia hoi (cerveja gelada) a 15 centimos - paraiso para os rapazes!-, com vista para as mais hilariantes cenas do quotidiano: tudo, tudo mesmo, e possivel a bordo de uma boto bai (moto bike). Os passeios sao para elas, as estradas entao nem se fala. No meio disto, onde anda o peao? No meio delas, a passo de caracol, sem fazer movimentos bruscos, e a rezar.
3 e o numero minimo de ocupantes, 4 e o numero normal, a idade minima parece ser os 3 meses, e desde que se saiba andar ja se pode ir de pe, entre as pernas do pai ou da mae, agarrado ao volante. Sem capacete claro. Do neto ao avo, da grade de cerveja ao escadote de 2 metros, tudo e todos mostram que a cidade se move, quer tu estejas aqui ou nao para assistir, e se estiveres pelo caminho, eles desviam-se.

16 October 2008

"em primeira classe"




Melhor que um post elaborado sobre o assunto, decidi copiar parte de uma conversa que tive no msn com o meu irmao acerca de tudo e mais alguma coisa, antes de me deitar, enquanto ele almocava:

eu: entao pah? A.: puttooo como é q é?(...) onde é q estão?? eu: hahaha estamos em nanning no sul da china isto 'e so rir A.: e é fixe? Vejam lá se tiram umas fotos mais bonitas ... ja tirei iguais entre a buraca e a pontinha ahahaha tou a brincar... as fotos estão excelentes e os posts tb eu: estamos num sitio muita estranho...a cidade ate mete medo mas o hostel parece um paraiso no meio disto tudo ate temos wii hahahaha A.: lolol wii ?? deve haver disso em todos os cantos lol eu: hahahah A.: e karaokes nao? eu: aqui nao, mas temos visto ate em motas com atrelados quitados com karaokes, hahahaha A.: ahahaha como existem cá as das castanhas, bahaha eu: 'e isso mesmo hahah eles param nos parques e malta junta.se a cantar hahaha A.: lolol tragam esses conceitos depois lolol eu: yaya A.: não sei se já sabias mas o g. teve 14 eu: hehehe o pai disse A.: Olha a Z. imprimiu o blog para mostrar à avó lolol eu: hahahah lindo(...), agora estamos numa cidade quase de fronteira a espera dos vistos para entrar no vietnam. sabado ja devemos estar em hanoi hehehe A.: yeah! acho q é excelente a cidade... eu: estou a tentar convencer a r. a escrever um post sobre a experiencia q e' de andar de comboio...a verdadeira versao...hahaha ela n quer p n assustar a mae hahahah A.: ahahah pq? eu: estes gajos sao malucos A.: como é q é?lolol pq? eu: n existem regras nisto. e' pior q o faroeste... q ao menos tem xerifes para por ordem...aqui nada A.: mas como assim? eu: tudo em chines...'e normal A.: nao existem regras para andar de comboio? tb nao sao precisas mtas lol eu: mas ninguem fala uma palavra doutra lingua A: lolol eu: as estacoes sao gigantes... nem te passa A.: principalmente para o interior como voces devem tar eu: partidas de 10 comboios ao mesmo tempo durante todo o dia nonstop com os gajos sempre a berrar em chines pelos altifalantes quando n 'e pelos megafones nos teus ouvidos e tu continuas sem perceber o q eles querem hahaha e depois a viagem.....n ha lugares marcados toda a gente a correr para agarrar um lugar A: ahahahaha lindo a cena de te gritarem em chines à espera q tu percebas, hahahah ...(A PARTE QUE SE SEGUE E DA EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DOS INTERVENIENTES; PODE CONTER CENAS E/OU LINGUAGEM CHOCANTE: NA IMPOSSIBILIDADE DE RETRATAR OS FACTOS COM A MESMA FIDELIDADE ACABOU POR SER APROVADO PELO BLOCO DA CENSURA (=R.) DESDE QUE NAO SE MOSTRE AS SENHORAS, AS MAES, E A AVO)... eu: velhas de gatas a mijar a porta das casas de banho da carruagem so porque o wc esta ocupado. por sua vez o wc esta todo borrado de merda pq alguem falhou o buraco e os seguintes trataram de espezinhar... enquanto uns faziam o belo servico uma senhora tratou de por a crianca a urinar no lava-loica da tea-station. No minuto seguinte, vem outra e manda um grego no mesmo sitio. 'e de doidos. e nem tenho modos de descrever o cheiro que fica naquela caixa de lata numa viagem que dura 1d5h34m A.: ahahaha fogo pensei q fossem + organizados devem é ser mto subdesenvolvidos e isso deve ser normal para eles lolol eu: eles la se entendem.... nos 'e q 'e mais dificil hahaha A.: e qto mais afastados das principais cidades pior lol eu: acredita...e agumas destas cenas passaram.se em 1a classe hahahaha A.: AHAHAHA lindo, ainda deves ter o bónus dos animais, vacas, caes , tudo eu: ainda n apanhamos nada disso nos comboios...pelo menos vivos. a servir de alimento o q n falta 'e animal de toda a especie hahaha A.: sim... isso é na segunda classe! eu: hahahaha A.: para mim na china era so Gambas lolol eu: hahahaha Andre: olha mas(...) qdo passares pela net vem aí ao gmail Granda Abraço! eu: ok abraco :)

POSTED BY XU

ShangHai, Sssshhh-Boom (para n escrever Pum)



A passagem por ShangHai foi rapida, como os foguetes que eles lancam por tudo e por nada.
O passeio pela antiga concessao francesa quase nao mostrou um exemplo da arquitectura colonial - em vez disso, shopping centers como cogumelos, slogans de todas as marcas possiveis e imaginarias tambem, e um starbucks em cada esquina. Esperavamos o ambiente cosmopolita de uma capital europeia de principio do seculo XX, com cafes onde se encontravam espioes e conspirava, o mesmo que tera servido de inspiracao a Herge. Nada.
Desses boulevards so ficou o nome e o tamanho, e depois de uma caminhada looooonga, e com o sol ja posto, fomos a procura do que a cidade mantem de mais tradicional. Na "velha vila" hoje transformada em arraial comercial para turista, com pagodes iluminados por neons e tudo, fomos encontrar os deliciosos dumplings de caranguejo (dim sum), numa cozinha fumegante de 2 m2 com janela para a rua, ornamento zero, e uma fila de espera de mais de meia hora. Velocidade lenta, literalmente a vapor.
Chegar la foi dificil: as ruas que tinhamos no mapa ja nao existem - quarteiroes inteiros demolidos, ruas desaparecidas, nenhum ponto de referencia no meio do labirinto de tapumes, gruas, buldozers, barulho, mais barulho a acrescentar ao constante dialogo de buzinas...-, e as placas de "desvio" ( para onde?) apareciam claro so na lingua deles.
Chegar ao rio para ver o lado de Pudong, a explodir em luz, cor, e som (uma brutalidade), um cenario que parece nao se conseguir viver. O rio separa dois mundos opostos e ate a ligacao nao se faz por uma ponte, mas por um tunel.
Esta e a cidade em que o edificio historico da primeira reuniao de partido comunista se encontra no coracao do bairro mais capitalista do momento. Onde ao lado de uma loja da Lacoste esta outra de contrafaccao, com o mesmo crocodilo na montra mas o criativo nome de Cliocodle... onde os vendedores ambulantes nao carregam a mercadoria as costas mas abordam os seus "alvos" com placards plastificados com imagens das ultimas novidades fashion, de sapatos a i-phones, de Lolex a Dolce-Gabanga.

14 October 2008

HangZhou, HangOver, Recover.







Pelo prazer de deixar o tempo passar mais lentamente acabamos por alongar a estadia em HangZhou. Seguimos depois para Suzhou, a "Veneza do oriente", mas so porque tem canais e pontes. Duas coisas tao distintas nao se devem comparar. Seria o mesmo que comparar duas mulheres so porque sao do mesmo genero.
Ainda hipnotizada pelo surrealismo de HangZhou, estado este muito sugestionado pela invulgar toponimia - para quem achava que os menus dos restaurantes chineses eram muito criativos ainda nao tinha estado em lugares chamados de "ponte partida sob a luz da lua no solesticio..." ;"pagode das 6 harmonias..."; brisa de outono sobre o lago calmo de nenufares nao sei que..."-, a viagem de comboio entre as duas cidades foi mais um pesadelo que um sonho e logo ali na estacao, antes de partir, tive direito a fazer a primeira birra com lagrimas e tudo. Eram de frustracao: consegui o bilhete, mas nao em primeira, nem segunda, nem quinta classe. No meio de caras sujas, curiosas, a um palmo da minha, sons e cheiros indescritiveis, cuspidelas para o chao e outras cenas, passaram-se algumas das horas mais longas da minha vida.
A esta hora a minha mae esta a imaginar a sua princesa "tron-plin-ton" - como sempre fui conhecida na familia e baptizada por uma tia avo que tinha 80 anos quando eu nasci- num comboio para o inferno, mas para sua e minha felicidade tambem, esta e daquelas historias que dao a volta. A meio da viagem ja tinha um lugar para mim, a mala num compartimento e um bando de nativos que fizeram o favor de me "proteger" o resto da viagem. J. ria-se, "conversava" com os novos amigos. Enterrei o nariz num livro e nao o tirei da frente ate chegar ao meu destino. Depois disso, taxi para o hotel.
Em pleno bairro patrimonio da UNESCO, o hotel mais especial em que ja estive. Nao o mais caro - pelo contrario, a maior pechincha desde que comecou esta viagem!- , ou o mais luxuoso, mas talvez o mais charmoso. Lindo. O meu optimismo regressou e ainda nao sabia o que estava para acontecer.
Agora o tal bairro em SuZhou. Quando antes de partir disse que tambem vinha em trabalho, ninguem acreditava. O que levo deste lugar nao vem nos livros - vem n'alguns claro, ate porque o Ming Pei esta a acompanhar a recuperacao do sitio e ate ali tem um museu-, porque tem de se viver. Passear por um lugar assim, que contem todos os temas da aquitectura, que os apresenta, desenvolve e conclui numa caminhada... e coisa rara. Muito.
Quando se faz uma destas "descobertas", fica-se com aquela sensacao de saber um segredo, de possuir informacao sagrada. Em vez de o guardar so para nos, queremos partilhar a experiencia porque se voassemos amanha para casa tinhamos tanto para contar que ja valeu a pena.

10 October 2008

a "oeste" do paraiso



Sobrevivemos a mega estacao de Pequim, a imensa rede de salas de espera e plataformas, sem qualquer simbolo reconhecivel nem no pedaco de papel que guardavamos ha 4 dias, o bilhete.
Em Hangzhou encontramos outro mundo. Um grande jardim, uma cidade a volta de um lago, o lago de oeste, com passadeiras verdes a "flutuarem", linhas rectas de 2 Km. E pequenas ilhas, com pagodes. E pagodes no topo das montanhas. E barcos em forma de pagodes, mas isso e outra historia. Como continuamos no mesmo pais tudo e enorme, e a paisagem perdia-se no nevoeiro como nas imagens a tinta da china.
Marco Polo disse ser a cidade mais bela que visitou, e esse grande hippie andou por meio mundo no fim da idade media.
Um boost de oxigenio e paz. A cidade e tambem muito activa fisica e espiritualmente apesar de a media de idades parecer rondar os 80 anos. Em cada clareira um anciao a fazer tai chi, em cada pedra um a pescar, a tocar flauta - outros, sob luz da lua, tentam aprender e nao deixam dormir-, a pintar, cantar e tudo mais. Mas nem so de manifestacoes artisticas solitarias vive a populaco e a noite o cenario era outro: ajuntamentos epontaneos de praticantes de aerobica-danca-de-salao-electronica-sem-pares a volta de um leitor de CD's dos 300, com batidas super rapidas.
O melhor de tudo foi o hotel. Escondido - muito bem, e ao fim de um caminho de pedras ladeado de bambu-, no meio do jardim, uma villa tradicional impecavelmente restaurada e cuidada, com pateos interiores lindos, pequenos almocos como manda a lei, e prestaveis chinesas sorridentes com quem conseguimos finalmente trocar ideias.

07 October 2008

LX-Madrid-Helsinky-Beijing-Beijing-Beijing-Beijing...




A cidade entupiu, o que nao admira quando se e cuspido do metro assim q a porta abre, quando ha "ajudantes" de megafone em punho e uma "mao amiga" que consegue sempre por mais um antes das portas fecharem. Acabamos por ficar mais 4 dias.
O desejo de sair da cidade cresceu durante a Golden Week, com todo o respeito. Apos uma tentativa bem sucedida mas va de comprar um bilhete de comboio para onde quer que fosse -com filas e filas de deslocados a quererem regressar a suas casas, acampados na maior estacao da cidade-, poderia ter surpreendentemente resultado, se houvessem bilhetes.
As nossas aptidoes linguisticas e um lexico de 3 ou 4 palavras recem-aprendidas - eu a falar e J. a apontar para os caracteres no livro perante uma funcionaria pouco sorridente, uma gritaria infernal saida dos omnipresentes megafones, e paineis informativos com milhares de destinos escritos em caracteres q mudam de 5 em 5 segundos... - acabaram por nos garantir um bilhete para Hangzhou.
Daqui a poucas horas vamos para a estacao. Esta estadia prolongada acabou por nos mostar uma cidade diferente. Acabamos por descobrir outra escala, outros ritmos, esquecer os mapas, voltar aos sitios preferidos, e ter vontade de voltar.

a cidade proibida...







... que nunca devia ter deixado de o ser. Bem diferente da cidade das imagens do Bertolucci, a ideia que temos agora e igualmente impressionante, mas menos perfeita.
Dos buracos do metro, de autocarros, do nada, brotava gente aos milhoes. O feriado nacional transforma-se afinal na Golden Week, que segundo os telejornais e a semana de maior actividade turistica por toda a china e em particular em Pequim, uma cidade que por si ja tem mais habitantes que Portugal. Agora imaginem mais 4 milhoes. De turistas. Chineses.
Ainda a praca de Tian`anmen dei por mim a pensar no Sr. Ze do Talho a perguntar se passava a carne duas vezes, "p'ros croquetes e melhor!;Sim, Sim, duas..." Gente que nao acabava, uma massa densa a transbordar como o passador do Sr. Ze. Nem os gigantescos pateos que se sucedem porta apos porta, muralha apos muralha pareciam filtrar tanta gente. E as filas para entrar, para pagar...
A vontade de trazer para casa uma imagem mais parecida com aquela que esperavamos requeria alguns truques de camara, muita paciencia para esperar o momento certo, alguns cortes aqui e ali. Foi quase possivel, nas fotografias.
Ainda assim, valeu a pena nao desistir perante a multidao e o calor, as horas. O arquitecto em nos agradeceu e continua a sonhar. O cinefilo ficou com vontade de rever "o ultimo imperador".

ninho de andorinha



O mais importante feriado nacional, a 1 de Outubro - que pontaria-, transforma a cidade numa mega romaria. O novissimo recinto dos Jogos Olimpicos foi o destino de eleicao para os milhoes de pessoas vindas de toda a china, e para as suas fotografias de 2008. O estadio Olimpico o principal cenario.
Pela proximidade do hotel, e para evitar a tentacao de chegar e ir dormir, seguimos a multidao e fomos nos tambem ver o orgulho da nacao, o Bird`s Nest. Por muito que quisessemos olhar para cima para abarcar a imensidao do edificio, as nossas atencoes nao podiam estar mais distraidas pelas movimentacoes a nossa volta.
O retrato chines e um fenomeno, e exige treino desde tenra idade sob a orientacao dos orgulhosos progenitores. Cada pessoa tem a sua assinatura, a pose menos natural de todas. Bracos abertos, dedos que apontam, pezinhos espetados, cabecas inclinadas, expressoes exageradas, transformam toda a gente em estatuas improvaveis por breves segundos.
Mas a nossa presenca tambem suscitou curiosidade, e como quem tirava fotografias com o Gil durante a expo, casais de namorados pediam-nos para posar, ora com um ora com outro, para as suas camaras.

LX-Madrid-Helsinky-Beijing


30.09 08. Escala em Helsinky. Tempo para abrir o Routard China e desenhar uma estrategia - nao ha acentos! - para os proximos dias. Trocamos para um aviao maior, a maquina do tempo que haveria de transformar as 7 horas de voo em 14.


Por volta das duas da manha em Lisboa as imagens alucinantes do Speed Racer explodiam dos ecras suspensos e o sol nascia la fora. Pouco depois aterramos em Pequim. A morada do hotel indicava o distrito de Chaoyang: o bus4 servia.


Fomos largados no separador central de uma das circulares com pelo menos 4 faixas para cada lado, mais aquelas que os pequenos veiculos inventam pelo meio. Mar de buzinadelas, mochilas a raspar nos arbustos, gargalhadas. No meio do nevoeiro, entenda-se poluicao, avistamos uma passagem de nivel. La de cima tinhamos esperanca de ver o logo do hotel ou avistar algum ponto de referencia. Nada. Os Km2 de distrito, pelo menos 4 como viemos a saber mais tarde, alastravam-se e perdiam-se no horizonte limitado pela nuvem cinzenta. Sem norte, mas pelo menos estavamos fora de perigo.


Claro que ajudava ter um mapa, e J. ate tinha previsto situacao semelhante quando insistiu para trazermos um dos mapas do aeroporto ou para apanhar um taxi para o hotel, mas sem falar chines nao era solucao.


Passada uma boa meia hora e um longo silencio fomos salvos por uma ex-voluntaria dos Jogos Olimpicos que largou a filha e o marido no meio da rua, desfez-se em telefonemas, enfiou-se no nosso taxi... 3 horas depois de chegar ao aeroporto estavamos a fazer o check in (nova aventura, no english, etc). Abracamos a Lilian e pagamos o taxi que a levaria de volta para a sua familia.


Licao numero um: o optimismo tem limites. A comunicacao nao e facil. A vontade e muita mas raramente envolve o verbo. Faz-se por gestos, numeros comunicados pelo visor do telemovel, a falar em ingles ou em portugues porque vai dar ao mesmo, e muitos sorrisos, o ultimo quase sempre de alivio, mutuo.